sexta-feira, 1 de agosto de 2008

CÉSAR NASCIMENTO



“Se um radinho caísse aqui, caísse um radinho perto de você...”. Com certeza você deve ter dançado e curtido muito esse hit, que estorou nas paradas de sucesso nos anos 90. Foi nesse estilo que o cantor César Nascimento se apresentou na Ilha de Algodoal, neste mês de julho, ao lado do paraense Almino Henrique. “O Radinho” e “Maguinha do Sá Viana” foram algumas das canções do amplo repertório de César, que nesses 18 anos de estrada já gravou oito álbuns ao som do tambor de crioula, ritmo genuinamente maranhense.
Casado e com dois filhos, César reúne várias histórias inusitadas, começando pelo seu nascimento. Os pais, naturais de Caxias do Sul, interior do Maranhão, decidiram que os cinco filhos iriam nascer em Teresina, no Piauí - que fica distante uma hora de Caxias - devido a melhor infra-estrutura do hospital. E assim aconteceu com César que com três dias de vida retornou a cidade maranhense: “Só nasci no hospital de Teresina. Eu sou mesmo Maranhense de corpo e coração”, diz o músico que há oito anos mora em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Foi no clima de Algodoal com muito reginoalismo, reggae e paz que César falou exclusivamente para o Balaio Virtual. Leia!

Portal ORM - De onde veio a paixão pela música?

César Nascimento: Desde a infância. Eu ouvia meu pai tocando acordeon e minha mãe cantarolando músicas de ninar. Não tinha como não gostar de música. Na adolescência, quando fui morar no Rio de Janeiro, tive uma banda de rock com os amigos que se chamava ‘Vale do Som’. Mas depois de um tempo percebi que não era isso que queria. A minha paixão mesmo era pela MPB, pelas coisas e ritmos tipicamente brasileiros e passei a investir nessa linha musical.

Portal ORM - Com 18 anos de carreira você deve ter muita história pra contar, como, por exemplo, o início de sua dedicação à música. Conte um pouco como tudo começou.

César Nascimento: Sempre gostei de inovar e queria fazer coisas diferentes no meu trabalho musical. Por isso participei, em 1982, do Festival de Verão de São Luis, no Maranhão com a canção Nordeste Fulô, que mostra brasilidade e regionalismo. Isso me impulsionou a participar, três anos depois, do Festival Viva, também no Maranhão, com ‘Forró que ando’, minha primeira composição. O resultado final deste festival foi a gravação de um CD com todos os participantes que nos levou a realizar shows em vários lugares do Brasil. Assim fui estendendo meus contatos, pensando em novas canções, foi quando gravei Ilha Magnética, nome do meu primeiro álbum. A canção virou hino em São Luis e isso me estimulou ainda mais a fazer música.

Portal ORM - Você se inspirou em algum músico para começar a desenvolver seu trabalho?

César Nascimento: Bem, sempre me identifiquei com a música em geral. Gosto de ouvir de tudo em especial, Ednaldo, Fagner, Alceu Valença e Gilberto Gil. Mas confesso que tenho um amor assumido aos ritmos maranhenses, ao som do tambor de crioula que aprendi com o saudoso Mestre Felipe. Por isso acredito que não tive influências diretas. Tenho um lema que explica bem isso: “Pinte seu quintal e seja universal”. É assim que vejo meu trabalho, até porque identifico a sonoridade no dia-a-dia e minha cabeça parece que está sempre mixando algo. É engraçado. Porém se tiver que atribuir uma influência forte no meu trabalho, sem dúvida é a da música negra, tema de várias composições como ‘Fogueira’. Inclusive, em agosto, começo uma temporada de shows com essa temática no Ceará.

Portal ORM - De onde veio a inspiração para a composição de “O Radinho”?

César Nascimento: Certo dia estava vendo um telejornal que mostrava imagens da guerra no Haiti, em que soldados americanos chegaram ao local de pára-quedas com aqueles radinhos de comunicação. Aquilo não saiu da minha cabeça. Na véspera do prazo final de inscrição para o Festival do Nordeste, promovido pela Rede Globo, eu resolvi compor uma canção para participar do evento e me veio logo aquelas imagens e pintou ‘O Radinho’. Me inscrevi com a canção e acabei vencendo o primeiro lugar do Festival. Depois disso a música repercutiu nas rádios e televisões de todo o país. A gravação era bem simples e com o sucesso a música foi mixada outras vezes, até em estúdios americanos. O legal disso tudo é ouvir, até hoje, a primeira versão tocando nas rádios (risos).

Portal ORM - Na sua opinião, o que representa a música paraoara, a Ilha de Algodoal e o Estado do Pará?

César Nascimento: Conheci tudo isso por meio do Almino Henrique, que além de amigo é meu parceiro musical. A gente se conheceu no Rio de Janeiro em uma dessas andanças dele pelo Brasil. Já fizemos três músicas juntos e essa é a segunda vez que ele me convida para desfrutar da beleza de Algodoal. Acho fantástica a cultura popular desse estado e, claro dessa ilha. Por isso eu e o Almino pensamos em fazer o show em Algodoal, que na minha avaliação foi uma idéia muito positiva. Apresentamos um belo repertório de reggae e lançamos ‘Maiandeua’, canção que fizemos em parceria para homenagear a beleza da ilha. Não posso deixar de citar que o show também homenageou o Mestre Felipe, meu mestre de tambor de crioula que faleceu no último dia 18. Saudades...

Portal ORM - Quais os projetos para o futuro?

César Nascimento: No ano passado lancei meu mais recente álbum “Quero Fogo”. Cuidei minuciosamente de cada detalhe dele, da produção à gravação. Dediquei toda atenção e carinho e topei assumir essa responsabilidade. Agora quero trabalhar com o álbum, divulgando-o ao ritmo natural das coisas. Hoje estou vivendo um momento muito zen e positivo, tanto na vida pessoal como na profissional. Não vou forçar a barra e vou deixar o tempo se encarregar de mostrar o meu trabalho para o mundo. Não projeto o futuro, deixo-o acontecer.