A boca pequena sempre muito vermelha e o nariz atrevido saíram
do palco de algum cabaré francês de 1950. Se o cabelo vem solto,
ondulado nas pontas, os olhos reforçados no lápis e as mãos com luvas
pretas que tomam os braços até acima dos cotovelos, então, Blubell
vira personagem de Woody Allen em Meia Noite em Paris. A voz
sugere que seu tempo é outro, que talvez ela viva a flor dos 35 anos
de idade com uns 60 de atraso. Seria tudo isso uma prisão e Blubell só
uma caricatura vintage se sua voz não invertesse a lógica da
nostalgia. Em vez de transportar quem está aqui para o passado, ela
refaz o presente com memórias afetivas modernosas e vestidas de
fraque.
O maior salto da artista se chama
Blubell & Black Tie, álbum considerado pela própria um projeto
paralelo dentro da carreira autoral que começou em 2006, com Slow
Motion Ballet, e melhorou bastante em 2011, com Eu Sou do Tempo Em Que
A Gente Se Telefonava. Mas ainda nada que chegasse perto do novo
disco, um álbum de intérprete que pode levá-la a anexar novos
territórios. “De fato,
em algumas faixas ela lembra cantoras de jazz muito especiais dos
anos 30 e 40, como a maravilhosa Mildred Bailey. Questão de timbre”,
diz o jornalista e pesquisador Zuza Homem de Mello. Um voo que ela não
faz sozinha. Os ventos levaram Blubell a um trio de instrumentistas
de primeiro escalão que responde por metade, ou até um pouco mais que
isso, das vitórias que podem vir com o novo trabalho.
O Black Tie é formado pelo violista e arranjador Fabio Tagliaferri,
pelo violonista e violoncelista Mario Manga e pelo violonista Swami
Jr. Uma espécie de reedição estética do antológico Música Ligeira,
excelente trio que já fazia nos anos 90 o que se chama hoje música pop
de câmara, formado então por Manga (integrante também do Premê,
ex-Premeditando o Breque, desde sua formação, em 1976), Tagliaferri e
pelo cantor Rodrigo Rodrigues, morto em 2005. “O Música Ligeira foi
mesmo a nossa inspiração”, diz Swami Jr, diretor musical e produtor da
cantora cubana Omara Portuondo . “É um conceito pelo qual tudo pode
passar, uma música despojada, sem maiores pretensões, que funciona
muito bem para o canto.” Eis o fator sorte de Blubell. Os escudeiros
que lhe caíram dos céus se entendem por telepatia e contam com
maturidade suficiente para estendê-la um lençol de seda que arremessa
sua voz ao alto e com classe. Apesar de terem bagagem para isso, ninguém ali quer aparecer mais do que Blubell.
O jazz pop camerístico que resulta do encontro liga tudo, até o que em sua origem não é nem jazz nem camerístico. O rock
and roll My Generation, do Who, tem bateria de boca, violoncelo e
violão feitos por Manga. Ben, de Michael Jackson, resvala na apelação
mas vira o jogo, de novo, graças ao arranjo de ukulele, de
Tagliaferri, violoncelo e baixo sem trastes.
O repertório é pessoal, quase biográfico. Era a mãe de Blubell que ouvia Celly Campello cantar Billy pela casa. E era ainda na infância que La Vie en Rose, conhecida com Edith Piaf; Love For Sale, de Cole Porter; ou Long, Long, Long, de George Harrison; soavam enquanto ela brincava.
Há ainda um caminho a Blubell. O mesmo Zuza, que elogia a produção do disco, tem ressalvas. “Ela canta bastante bem, chega bem nas notas agudas embora não tenha, nem poderia ter ainda, a força interpretativa de uma cantora de peso. Sua voz não tem corpo, mas tenho a sensação de que essa é uma marca das novas cantoras de jazz taxadas precipitadamente de novas divas”. Já Solano Ribeiro, produtor e criador dos Festivais da Record nos anos 60, ouviu a música The Fight In Café, do disco Slow Motion Ballet, e teve a impressão de que “falta útero” à interpretação. A hora de virar esse jogo é agora.
O repertório é pessoal, quase biográfico. Era a mãe de Blubell que ouvia Celly Campello cantar Billy pela casa. E era ainda na infância que La Vie en Rose, conhecida com Edith Piaf; Love For Sale, de Cole Porter; ou Long, Long, Long, de George Harrison; soavam enquanto ela brincava.
Há ainda um caminho a Blubell. O mesmo Zuza, que elogia a produção do disco, tem ressalvas. “Ela canta bastante bem, chega bem nas notas agudas embora não tenha, nem poderia ter ainda, a força interpretativa de uma cantora de peso. Sua voz não tem corpo, mas tenho a sensação de que essa é uma marca das novas cantoras de jazz taxadas precipitadamente de novas divas”. Já Solano Ribeiro, produtor e criador dos Festivais da Record nos anos 60, ouviu a música The Fight In Café, do disco Slow Motion Ballet, e teve a impressão de que “falta útero” à interpretação. A hora de virar esse jogo é agora.
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