A placa de identificação colada na porta é
muito clara, ainda que os atendimentos realizados no local em nada se
assemelhem aos prestados em uma sala de informática. Sentado na cadeira
instalada no meio da sala improvisada e ainda cercada por armários com
computadores, essa era a estrutura oferecida na manhã de ontem pela
Unidade Municipal de Saúde da Sacramenta para que, aos 74 anos, Edjalma
Bahia fosse atendido pelo clínico geral em uma consulta de rotina. “Aqui
é sempre assim. Um absurdo!”, revoltava-se a dona de casa Conceição
Bahia, filha e acompanhante de Edjalma.
Sem que fosse necessário muito esforço,
bastava entrar na unidade de saúde para constatar os diversos problemas
que afligiam a grande quantidade de pacientes que se amontoavam pelos
corredores do prédio, muitas vezes sem um lugar para sentar. Em cada
pavimento que antecedia a entrada de uma sala, não apenas os
ventiladores, mas também algumas lâmpadas, não funcionavam. Diante da
sala identificada como sendo a do Serviço Social, a dona de casa Eliana
Dias aguardava pela consulta com a pediatra. “É sempre muito complicado
aqui. A gente tem que ficar aqui esperando em pé porque não tem nem onde
sentar. Tô desde as 6h aqui esperando”.
Na companhia dos filhos Diogo, de três anos,
e Eliane, de doze, a dona de casa aguardava em pé há duas horas e meia
pelo atendimento realizado em condições precárias, não por falta de
dedicação dos profissionais que já começavam a atender. Sem que a sala
destinada ao atendimento pediátrico dispusesse de maca para o
atendimento das crianças, as consultas precisavam ser desenvolvidas com o
auxílio apenas de uma mesa e de uma cadeira. “É um absurdo. Nunca tem
maca para deitar as crianças e examiná-las”.
Com um pedaço de papel em mãos, Orlando
Marcelino reclamava até da ausência de material destinado à prescrição
das receitas médicas. Frequentador do posto para o acompanhamento
constante do problema de epilepsia, o rapaz afirma que os problemas são
constantes no local. “Isso é uma vergonha. Às vezes tem receita, mas tem
vezes que é só um borrão”, afirma. “Tem mais de um mês que eu não entro
nesses banheiros porque não tem água”.
Já com a receita em mãos, a aposentada Maria
Antônia Araújo, de 79 anos, enfrentava outro problema no mesmo posto de
saúde. Com uma lista grande de medicamentos a tomar diariamente, ela
saiu da unidade de mãos vazias. “Não tem remédio, não tem nadinha. Tenho
pressão alta e um monte de coisa, tem que tomar esses remédios todo
dia”, afirmava. “Saí do consultório e vim aqui pegar o remédio e a
mulher disse que só vai chegar depois do dia 10. Vou ter que comprar só
alguns porque é muito caro”.
Para além dos problemas enfrentados pelos
pacientes, os profissionais de saúde também precisam lidar com a
ausência de álcool em gel para desinfetar as mãos e de água nas
torneiras. Na sala de urgência e emergência, as condições de atendimento
pareciam ainda piores. Enferrujadas, as macas eram apoiadas em pedras, o
armário onde se armazenam os medicamentos se desfaziam e algumas das
cadeiras destinadas ao assento dos funcionários estavam quebradas.
Sesma
A Secretaria Municipal de Saúde informa, em
nota, que os guardas que garantem a segurança do prédio passam a fazer
rondas na área, já que a unidade não dispõe de um local específico para
eles. Também disse que a UMS Sacramenta faz parte das 19 unidades que
tiveram as obras iniciadas e não concluídas na gestão municipal
anterior, “sendo que, em julho passado, o Ministério Público Estadual
assinou Termo de Ajuste de Conduta com as empreiteiras responsáveis
pelas obras”.
Segundo a Sesma, a empresa responsável pela
obra não cumpriu o acordo, motivo pelo qual foi advertida. O prazo
estabelecido pelo TAC para a conclusão da obra é dezembro deste ano.
A Sesma informa ainda que os atendimentos
têm sido realizados normalmente e que está concluindo o relatório para
aquisição de mobiliário. Ressalta também “que não procede a informação
sobre a falta de receituário”.
Em Ananindeua, o caos completo
Por mais que a visita à Unidade de Saúde do
Ariri, no bairro do 40 Horas, em Ananindeua, fique restrita aos
pacientes, os relatos são de condições de atendimento também muito
precárias. Usuário do serviço no bairro, o aposentado Genivaldo Martins
já perdeu as contas de quantas vezes já procurou atendimento no posto e
não obteve sucesso. “Desde a virada do ano para cá que só tá promessa. O
atendimento é muito precário aqui. Não tem médico, não tem nada”,
afirma. “Tô precisando fazer uma consulta com um gastro e não consigo
pegar um encaminhamento do clínico geral porque não tem aqui. Muitas
vezes quem fica clinicando aqui é enfermeiro”.
Com as portas da unidade ainda fechadas pelo
início da manhã e com uma pequena fila de pacientes aguardando do lado
de fora, o aposentado revela que, mesmo quando há atendimento de outras
especialidades, os pacientes ainda tem que enfrentar uma longa espera.
“Aqui abre 8h, mas eles começam a chegar 9h e 11h já estão indo
embora”.
Servidor da unidade de saúde, Edenilson
Tavares afirma que o posto já está sem clínico geral há seis meses.
“Falta médico, as marcações de consulta demoram muito... Já estamos há
seis meses nessa situação e não tem mais condição de ficar assim”,
afirma. “Estamos sem clínico geral e também não temos Agentes
Comunitários de Saúde, que são de suma importância para orientar a
população porque vão nas casas das pessoas”.
Às proximidades do bairro, já no Posto de
Saúde do Coqueiro, a dona de casa Rosemary Silva madrugada à espera de
uma ficha. Com a disponibilização de apenas sete fichas para o
atendimento odontológico, ela comemorava a conquista da senha de número
dois. “Cheguei por volta de 5h30 porque queria ser atendida logo hoje.
Como sou a segunda, espero conseguir ser atendida ainda hoje”.
Secretaria
O DIÁRIO tentou contato várias vezes com a
assessoria de imprensa da Prefeitura de Ananindeua pela manhã de ontem,
porém, os números sempre caíam na caixa postal. A equipe ainda tentou
contato com o número geral da Secretaria Municipal de Saúde de
Ananindeua disponibilizado no site, mas o número só chamou.
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