quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Tropa de Elite gera mais ódios que amores


O concorrente brasileiro ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, Tropa de Elite, de José Padilha, exibido ontem, teve uma recepção da crítica dividida entre amores e ódios. Mais ódios do que amores.
A revista norte-americana Variety, que recentemente incluiu Padilha numa restrita lista de dez diretores em quem se deve prestar atenção, foi especialmente dura com o filme.
Em resenha assinada por Jay Weissberg, a Variety atribui a Tropa de Elite um “estilo Rambo” e sustenta que ele faz “uma monótona celebração da violência gratuita que funciona como um filme de recrutamento de seguidores fascistas”. O autor aponta ainda semelhança entre o uniforme e o distintivo do Bope com os da brigada Cabeça da Morte (Totenkopf), guarda de elite da SS nos campos de concentração nazistas.
Weissberg afirma ainda que, segundo o filme, “só o Bope pode salvar a cidade [do Rio], mas isso requer, antes, a remoção cirúrgica de qualquer coisa que se pareça com um coração”.
Leitores brasileiros da versão online da revista escreveram no site mensagens de protesto e atacaram o autor da crítica.
A Hollywood Reporter publicou entrevista e reportagem sobre o filme, com destaque em sua capa da edição de hoje, mas chamou-o de “um filme constrangedor sobre policiais assassinos”.
A crítica afirma que “o pressuposto básico do roteiro escrito por Padilha, Rodrigo Pimentel e Bráulio Mantovani é que todo mundo no Rio é corrupto, especialmente as autoridades”.
A revista inglesa Screen, por sua vez, deu ao filme a nota máxima - quatro estrelas, correspondente a “excelente”-, numa crítica farta de elogios.
“ A montagem corajosa, a incansável câmera na mão e essa espécie de tom quente e realista conhecido desde Cidade de Deus e Amores Brutos produzem uma mistura que é mais funcional do que inovadora, embora seja eficiente”.
A crítica do jornal francês Le Monde, publicada no blog de cinema do diário, acusa o filme de fazer apologia à tortura: “Tropa de Elite é feito segundo a receita do neoconservadorismo hollywoodiano - montagem frenética, câmera epiléptica, narrativa que não deixa nenhum espaço à ambivalência. Não é preciso ser hipersensível para ver no filme uma apologia da tortura e das execuções extrajudiciais”, afirma o crítico Thomas Sotinel.
A reação da imprensa alemã foi desigual. O jornal Berliner Zeitung avaliou o filme como “excitante e original”, disse que ele apresenta “os diversos lados da questão” e o faz com bom “equilíbrio entre os aspectos ficcional e documental”.
Já o Der Tagesspiegel disse que, no retrato do “mundo pavoroso e sem lei” que o filme faz, “não há zonas brancas e negras; tudo é escuro”. Os dois jornais, no entanto, ressaltaram que Tropa de Elite não é fascista. “E nisso [fascismo], como você sabe, somos especialistas”, comentou o jornalista alemão.
Padilha acredita que os críticos estrangeiros que atribuíram ao filme um caráter fascista foram influenciados por colegas brasileiros que reprovam Tropa de Elite desde a sua estréia no Brasil.
Sobre as resenhas publicadas ontem, o diretor afirmou: “Uns nos acharam inteligentes, outros fascistas. Na verdade, não me preocupo com isso”. (Folhapress)

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