sexta-feira, 2 de abril de 2010

Tailândia é a 3ª cidade mais violenta do Brasil

Há um genocídio silencioso em curso contra os jovens paraenses. É cada vez maior o número de pessoas no Pará vítimas de homicídios, elevando o Estado a um dos mais violentos do país, principalmente para quem tem de 15 a 25 anos. É o que mostra o Mapa da Violência 2010 divulgado ontem pelo Instituto Sangari. Os dados apresentados também estabelecem um panorama crítico para o Estado. Entre os 15 municípios mais violentos do Brasil, dois (Tailândia e Marabá) são paraenses. E nos últimos 10 anos, o Pará saltou da 20ª posição no ranking de maiores taxas de homicídio para o 7º lugar.

O mapa mostra que, entre os estados da Região Norte, o Pará apresenta o maior número de homicídios. De 1997 a 2007, a taxa de assassinatos subiu 195,4%, passando de 769 para 2.204 por ano. Para se ter uma ideia, a segunda posição ficou com o Tocantins, com 85,1%.

No comparativo a cada 100 mil habitantes, o estado teve aumento de 130,3%, indo de 13,2 mortes em média para 30,4; ocupando a 7ª colocação no índice nacional. Já na Região Metropolitana de Belém, as mortes cresceram 121,8%, indo de 326 (1997) para 803 (2007). Nesse sentido, só perdemos para Belo Horizonte, que aumento 206,1%.

Entre os jovens, o número é ainda mais alarmante. Na população de 0 a 19 anos, na estimativa de 100 mil habitantes, nos últimos 10 anos, o Pará pulou da 21ª para a 10ª posição, saindo de 4,4 para 11,8.

Entre os municípios, Belém está em 7º, com 58,9 mortes. Na população de 15 a 24 anos, o território paraense ocupa a 8ª posição, com média de 54,7 mortes para cada 100 mil pessoas. No mapa publicado há dois anos, era o 19º, com 21,6. No Brasil inteiro, a taxa de homicídios entre os jovens passou de 30,0 (em 100.000 jovens) em 1980 para 50,1 no ano 2007.

Levando em conta todos os municípios brasileiros, os dados também não são animadores. No quantitativo estipulado de 2003 a 2007, tivemos dois municípios paraenses entre os 15 mais violentos, sendo Tailândia considerado o terceiro mais perigoso.

O unicípio da região nordeste do Estado tem saltou de 40 para 72 mortes por ano. Como a cidade possui 56 mil habitantes, a taxa ficou em 128,4 mortes para cada 100 mil habitantes. Já Marabá, na região sudeste, ocupa a 14º colocação.

Nos quatro últimos anos o quantitativo foi de 137 para 186, média de 90,4 mortes por 100 mil habitantes.

Os dois lados da moeda

No apartamento no bairro do Umarizal, área nobre de Belém, uma tragédia abalou uma família. Maria do Socorro e José Maria Lobato choram a morte do filho Rodrigo Lobato, 22 anos, morto em uma tentativa de assalto, bem perto de casa, no mesmo bairro, no dia 12 de setembro de 2009. Apesar dos acusados estarem presos, os pais ainda lutam por justiça, diante de um sofrimento que parece não ter fim.

No último dia 15 de novembro, Rodrigo faria 23 anos e estaria cursando o último semestre do curso de Direito. Após assistir televisão com a família, Rodrigo, o irmão e um primo saíram para comprar lanche. Como o irmão ficou conversando com amigos, o estudante voltou até o apartamento onde morava, na avenida Antônio Barreto e, enquanto o primo subiu para entregar o lanche para a mãe, ele continuou no carro. Foi aí que os bandidos, se aproximaram e anunciaram o assalto. “Nós ouvimos estampidos e gritos. Chegamos com o Tiago gritando”, relembra Maria. Eram quatro bandidos armados. “Desde então o nosso sofrimento não tem fim. Tivemos que nos mudar para fugir das lembranças e da violência”.

Bem distante dali, na periferia da capital, mais especificamente na sede de um clube no bairro do Bengui, um grupo de jovens se reúne e discute iniciativas para acabar com a violência no local, considerado área de risco. José Roberto Lopes, tio de uma jovem assassinada a tiros em 2001, criou um coletivo de jovens e deu o nome em homenagem à sobrinha: Monique Lopes, morta há tiros em 2001.

Sete anos antes, Monique Lopes, 19 anos, foi a uma festa com o namorado, em um clube na avenida Augusto Montenegro. Na saída, foi surpreendida com quatro tiros, direcionados ao namorado, envolvido com uma briga horas antes. Um dos tiros atingiu o pulmão. A estudante não resistiu. Mas, hoje, a sua memória sobrevive na vontade dos jovens do Bengui em mudar sua realidade. “Nós precisamos discutir isso com os próprios jovens. Precisamos resgatar a juventude da periferia e acabar com o preconceito que existe das pessoas conosco”, afirma Gilmara Kelly Teixeira, 22, presidente da Juventude Cabocla Socialista do Pará (JCSP).

Para o sociólogo Romero Ximenes, o problema da violência entre os jovens se configura como um círculo vicioso, já que parte dos próprios jovens. “Essa violência não é só do delinquente para o cidadão comum. Eles mesmos são os maiores agentes e os mais atingidos pela violência”, explica. A consumação da violência partiria da grande condição de pobreza da população e da necessidade de consumo dos jovens. (Diário do Pará)

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