domingo, 9 de março de 2008



Trânsito de Belém está perto do nó

CAOS Daqui a dois anos, locomover-se de carro pelas ruas da cidade tornar-se-á impraticável

O colapso no trânsito de Belém aproxima-se a passos largos e, caso o poder público não intervenha urgentemente para minimizar o problema, a expectativa é que esse processo seja antecipado em pelo menos dois anos antes de 2012, como previam simulações feitas pelo Plano Diretor de Transportes Urbanos de Belém (PDTU), iniciado em 2000 e concluído com o Projeto Via Metrópole em 2003. Hoje o colapso já atingiu 70% da sua cota. Daqui a dois anos, em 2010, locomover-se, através de veículos em Belém, deve ficar impraticável.
A previsão foi feita através de simulações onde foram analisadas demandas futuras projetadas para 2012 e de que maneira o sistema absorveria essa demanda crescente caso medidas não fossem tomadas no que se refere à racionalização do sistema de transporte, quanto à implantação de outras alternativas viárias. O projeto Via Metrópole, elaborado em parceria com a Agência de Cooperação Técnica do Japão (Jica), foi concebido em 1990 e fez projeções até o ano 2000. Os dados foram atualizados em 2002 e projetados até 2012.
Paulo Ribeiro, arquiteto e urbanista, que atuou na elaboração do PDTU, iniciado em 2001, afirma que a simulação mostra que caso tudo permaneça como está, nos horários de pico a situação tornar-se-á bastante grave no corredor da Almirante Barroso. “Nesse pico o congestionamento ocorreria da avenida Dr. Freitas até a rodovia Mário Covas a uma velocidade média de cinco quilômetros por hora. A projeção seria de cerca de sete quilômetros de engarrafamento”, calcula.
Essa situação, segundo ele, penalizaria principalmente o usuário do transporte público que não tem condições de sair do corredor de tráfego. “Nessa simulação, o tempo médio para sair de Icoaraci até chegar a Belém seria de duas horas e meia”.
O mais preocupante, diz o especialista, é que hoje o congestionamento entre a Júlio César e o Entroncamento e deste até um ponto médio da Mário Covas, já é uma realidade, faltando ainda quatro anos para que, teoricamente, esse colapso ocorra. “Na minha concepção esse estrangulamento já existe. Basta olhar a situação diária na Almirante Barroso”, coloca.

SIMULAÇÕES
- Entre as explicações para essa antecipação da previsão do colapso, diz Paulo, está o crescimento vertiginoso da frota privada em circulação na cidade, em razão das facilidades de financiamento para aquisição de veículos. “O que falamos até agora são simulações. Ocorre que esse estudo é de cinco anos atrás. A situação hoje pode ser bem pior, pois o número de carros nas ruas aumentou e, efetivamente, não foi criada nenhuma política de melhoria no sistema de transporte público”, coloca.

Vias principais estão no limite da capacidade

Paulo Ribeiro, arquiteto e urbanista, explica que a situação crítica é toda a demanda originada na área de expansão da cidade na Região Metropolitana de Belém (RMB), a partir do Entroncamento tanto nos eixos da Augusto Montenegro quanto da BR-316 em direção ao centro, local que concentra a maior área de comércio e serviços da cidade. “De manhã cedo todos precisam rumar para o centro, bem como voltar para casa após as 18h. Ocorre que temos apenas seis faixas de rolamento que promovem essa ligação entre a grande periferia residencial e o centro na primeira légua patrimonial: quatro na Almirante Barroso e duas na avenida Pedro Álvares Cabral. Todas estão no seu limite de capacidade, seja no sentido bairro-centro, como no sentido centro-bairro”, diz.
Segundo Ribeiro, 15% do total de domicílios motorizados, 34% do total de empregos da RMB estão localizados na primeira légua patrimonial, que compreende as zonas do Guamá, Marco, Sacramenta e Centro, que englobam mais de 20 bairros no total. “O volume de deslocamento que sai de cada uma dessas regiões só vem crescendo nos últimos anos. Só na Almirante Barroso temos cerca de 60 linhas de ônibus. Considerando o volume de tráfego existente hoje, os corredores da Dr. Freitas até a Mário Covas estarão 100% saturados dentro de muito pouco tempo”, constata.
Para resolver o problema basta que seja colocado em prática o projeto Via Metrópole, finalizado em 2003, que prevê principalmente a racionalização do sistema de transporte público. “Hoje todas as linhas que saem da periferia precisam vir ao centro, já que o sistema não é integrado. Essas linhas saem lotadas da periferia e os passageiros começam a descer a partir do Entroncamento e São Brás. Quando chega ao centro a ocupação é cerca de 20%, mas o volume de veículos trafegando é enorme”, coloca.

Prioridades precisam sair do papel

Paulo Ribeiro conta que em 2003, quando o Via Metrópole foi finalizado, o volume de ônibus trafegando no centro de Belém chegava a 520 veículos por hora. Na Almirante Barroso, entre Júlio César e Entroncamento, o volume era de 570 ônibus/hora, só num sentido. “Imagine a situação como está hoje”, diz.
Por outro lado, existe a necessidade da mudança da concepção operacional do sistema de transporte, criando corredores de maior capacidade, vias exclusivas para ônibus de maior capacidade, além de terminais de integração. Isso faz com com que nem todas as linhas venham até o centro, mas as que cheguem sejam maiores, conectadas através dos terminais. Por outro lado, ele cita que algumas vias precisam ser ampliadas e prolongadas.
“ Nessa área há um projeto que considero prioritário: a segunda etapa da avenida Independência, entre Augusto Montenegro e a Júlio César, e a conexão dela com o binário da Pedro Álvares Cabral e Senador Lemos. Isso dará conta de toda uma demanda que é gerada na Cidade Nova e que vem para o centro. Outra obra fundamental é o prolongamento da avenida João Paulo II até a rodovia Mário Covas”.

Prefeitura e governo atuam isoladamente

O DIÁRIO procurou representantes das administrações municipal e estadual para repercutir de que maneira cada um vem trabalhando para resolver o grave problema do caos no trânsito em Belém. A realidade é que tanto prefeitura como governo estão atuando de maneira isolada, procurando resolver problemas mais urgentes, pontualmente, tendo em vista que os recursos para desenvolver projetos do porte do Via Metrópole, mesmo que em parceria, ainda são bastante escassos.
Ana Cláudia Cardoso, secretária adjunta da Secretaria de Governo (Segov), diz que este ano a previsão é que sejam aplicados, pelo menos, R$ 30 milhões e várias ações isoladas em vias da RMB. “Pelos nossos cálculos precisamos de, pelo menos, mais R$ 364 milhões para aplicar nos próximos dois anos em outros projetos. Estamos tentando captar esses recursos em instituições de fomento como o BID e BNDES para iniciar as obras já em 2009. Ocorre que esse processo é demorado”, antecipa.
Ela lembra que no 1º semestre do ano passado, a Secretaria de Transportes (Setran) iniciou os debates para retomar o projeto Via Metrópole. “Recentemente ampliamos a discussão procurando ouvir outras secretarias como a Sedurb, Secult, Cohab e até a Paratur para que possamos ter uma avaliação mais abrangente desse projeto, priorizando a visão de desenvolvimento urbano integrada”, conta.
Ana Cláudia diz que o Via Metrópole não envolve apenas obras físicas, mas também um complexo arranjo institucional que envolve os cinco municípios da RMB e o governo do Estado. “Precisamos criar um Conselho Metropolitano para gerir o projeto. Além disso, não vamos gerir o Via Metrópole como ele foi concebido e estamos na expectativa da aprovação de uma lei federal que regulará a mobilidade urbana e a concessão de rotas de transporte”.

Mobilidade é um dos critérios da Fifa

Entre as prioridades de execução do projeto está a reforma dos principais corredores de tráfego da capital: Almirante Barroso, Augusto Montenegro e BR-316, que irão receber faixas exclusivas. “Na Almirante Barroso, por exemplo, serão criados corredores laterais. Isso significa que os ônibus terão que ter portas nos dois lados, o que levaria a um investimento grande na reforma da frota”, afirma Ana Cláudia, da Segov. Apenas para a reforma desses corredores a previsão de gasto é na ordem de R$ 148 milhões.
A adjunta da Segov lembra que Belém esta cotada para ser uma das sub-sedes da Copa de 2014 e um dos critérios da Fifa para a escolha é justamente a mobilidade das cidades. “Por essa razão vamos procurar acelerar essas obras para reduzir o sufoco da população e, ao mesmo tempo, não prejudicar a candidatura do Pará”, coloca.
João Renato Aguiar, diretor de Trânsito da CTBel, diz que Belém está “prensada” entre a baía do Guajará e o município de Ananindeua. “Não há para onde crescer. Nossas vias são antigas e estreitas e qualquer tentativa de alargá-las passa por um processo de desapropriações que custa caro. O projeto precisa ser macro e multi-disciplinar”, coloca.
Ele diz que o projeto de prolongamento da avenida João Paulo II até a Alça Viária, que está ainda na sua fase inicial, será fundamental. “Além disso, temos o projeto do binário da Senador Lemos com a Pedro Álvares Cabral, estamos realizando o alargamento da Marquês de Herval, que ficará semelhante à nova Duque; e estamos iniciando estudos para o prolongamento da Estada da Ceasa”.
Ele cita ainda o projeto de revitalização da avenida 25 de Setembro, que ele garante que sairá do papel em 2009. “O bem-estar público deve prevalecer sobre o bem-estar individual e o projeto será executado”, coloca.

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